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Solos

Diário de um pirofagista / Pirofagia-me

por Aline Alves

É um “solo” que lança mão do atravessamento das linguagens da dança, teatro e performance, para configurar uma narrativa poética da curta e intensa trajetória, que para mim, mais queimou em pouco espaço de tempo: a de meu irmão Alan George Barros da Silva ( * 21/08/79 # 17/01/97). O trabalho busca radicalizar a zona de coabitação entre espectador e obra, ao descartar o lugar da mera contemplação do público. Nele a experiência só se constitui mediante um importante jogo direto entre interpréte e espectador. Partindo do pressuposto de que olhar é o oposto de conhecer, se configura, no solo, um trânsito do modo como o espectador entra em contato com a obra e o modo como a intérprete transcende a narrativa, do contexto privado para o contexto geral/público e como isso gera experiência. O PIROFAGISTA Nasce no fim dos anos 70, na cidade de São Paulo, filho de pai nordestino e mãe paranaense. Catequizado e crismado a duro custo nos anos 80; aconselhado, mais tarde, nos anos 90, a arrumar emprego, torna-se oficce boy e consumidor das marcas Pakalolo, Fatto e Side Play (outrora símbolos de fetiche e status de mercado, hoje símbolos do fracasso e falência de um tempo, guardadas com carinho na memória do status quo). Em meados de 93 assume-se gay e torna-se amigo da única transexual do bairro em que mora, a Mel ( que ainda mora na mesma casa e é professora de biologia da rede pública de ensino). Sobre o período das práticas religiosas/cristãs, adquiriu o dom de profetizar. Profetizou, sem erro, que nos anos 2000 Rick Martin, seu ídolo de até então, romperia com a ditadura heterossexual e gemeria alto para o mundo sobre o gozo escondido. Não viveu para ver ver seu ídolo declarando que gostava mesmo “era de uma piroca”. Viveu uma vida delirante, de 17 anos de amor aos despropósitos e constantes chacoalhões na miopia dos sentidos e razão anestesiada de sua família Barros da Silva. O que o pirofagista mais ouviu sobre si mesmo foi: “Você é fogo!” Se pudesse ser definido em uma expressão seria: “Vo-cê é fo-go”. Um hobbie “Ser fogo.” Um prato: “Com muito fogo”. Praia ou montanha: montanha pegando fogo. Um ídolo: do signo de fogo. Um motivo de orgulho: queimar rápido demais. Um ressentimento: ter queimado rápido demais. Você você você! Ai, você é fogo! Menino, você é fogo.

 

Ficha Técnica

Concepção, criação e performance: Aline Alves

Orientação: Lu Favoretto

Provocação: Mumbra Corpomóvel

Trilha Sonora: Tiê Campos e Marcus Vinicius

Iluminação Marcela Paéz e Gabriel Kuster

Fotografia: Olívia Niculitcheff

Alimento filosófico: A Psicanálise do fogo de Bachelard

Vídeos

Imagens: Olívia Niculitcheff e Patricia Cornacchioni

Edição de vídeo: Bruno Ogibowiski

Este trabalho surgiu a partir da necessidade da intérprete de, como mulher, se reinventar. O corpo aqui é a passagem e a paisagem para que este rito aconteça e a plateia é testemunha de tal experiência.

A partir do diálogo com a sonoridade do baixo acústico sendo tocado ao vivo e entendendo o elemento da terra como matriz para este ritual, esta dança se faz a partir da procura da intérprete pela desconstrução e reconfiguração de sua própria figura, trazendo a tona novas configuracões do corpo, da voz e até da linguagem. Solo de dança contemporânea criado pela interprete-criadora Isis Marks em 2014, sob a orientação da artista Lu Favoretto. Livremente inspirado no livro “Um útero é do tamanho de um punho” de Angélica Freitas e “A Descoberta do Mundo” de Clarice Lispector.

Âmago

por Isis Marks 

Vídeos

A mulher quer se desfazer e virar outra

Não quer ser mais nada

Quer ser gente e ser bicho

Quer poder não ser mulher

Quer esconder a sua face

Ser corpo sem rosto e sem forma

A mulher quer

(sobre aquilo que habita nossa solitude ou sobre a brandeza e a liberdade da não classificação das coisas)

Ficha Técnica

Orientação Lu Favoretto

Provocação MUMBRA corpomóvel

Intérprete-criadora Isis Marks

Baixo Acústico Noa Stroeter

Concecpção de Luz Marcela Páez

Fotografia Giuliana Cerchiari

Duração 30 minutos

Acreditando na potencialidade que a arte tem de tratar sobre tudo o que é humano, este projeto aposta nas possibilidades oferecidas pelo diálogo entre as diversas artes da cena (e mais especificamente pelo hibridismo entre  Dança e Teatro) para desenvolver uma série de estudos cênicos, que se debrucem sobre a questão do Estrangeiro – enquanto símbolo-síntese do estranho e desconhecido – em suas diversas dimensões: políticas, sociais e psicológicas, passando desde as relações interpessoais à esferas macroscópicas de poder. Basicamente, a proposta é correlacionar o trânsito formal entre as linguagens da arte da cena e o trânsito temático entre as diversas perspectivas de reflexão a respeito de um tema central.
    Sendo assim “Estudos para STRANJERO” se propõem a criar uma série de estudos cênicos que, partindo sempre da perspectiva de investigação sobre o diálogo entre dança e teatro, possam problematizar a temática do estranho, desconhecido, estrangeiro, como “variações sobre o mesmo tema” – abordando tanto suas dimensões mais individualizadas quanto suas amplitudes sociais; gerando assim, cenas que problematizam temática e formalmente, fronteiras e  delimitações.

 

Estudos para STRANJERO

por Marcela Páez

    STRANJERO #1 Estudo Lúdico é o primeiro solo do Projeto, e busca, mantendo-se dentro da linguagem da dança-teatro, se debruçar sobre a temática do Estrangeiro - o "outro", o "estranho", o "desconhecido" – a partir de uma perspectiva lúdica, que permita despertar e articular algumas reflexões a respeito da questão do Estrangeiro.O solo se apresenta como um Improviso estruturado que se constrói sobre três motes investigativos:1) As relações criativas entre tema de estrutura e tema poético (ou seja, como a pesquisa sobre a qualidade de movimento dialoga com as pesquisa temática que se quer levar à cena);2) A utilização da narratividade para criar dramaturgia em dança, pensando especialmente nas relações: VOZ x MOVIMENTO, PALAVRA x GESTO;3) O cultivo do lúdico como elemento essencial da cena.    Sem buscar respostas definitivas para tais inquietações, a cena apresenta uma investigação em tempo real sobre estes três disparadores e cria, a partir daí,  um ambiente imaginativo que remete à infância sem construir uma cena infantil: Em cena nos depararmos com uma figura-narradora que se apresenta sem rodeios e narra em seu dialeto próprio uma possível história do surgimento do estrangeiro.    

    No segundo solo da série STRANJERO #2 Estudo Geográfico manteve-se o interesse pela relação VOZ x MOVIMENTO, mas abrimos mão da ludicidade para debater o tema de maneira mais escancarada. Elegendo uma perspectiva geográfica para olhar a questão, a proposta aqui seria  refletir e relativizar a noção de Fronteiras, questionando: Qual o sentido de criar delimitações bidimensionais para nos separar e dividir, se nós enquanto seres históricos estamos tridimensionalmente marcados por ancestralidades múltiplas e miscigenadas?. Somos corpos tridimensionais presos, como dizia Kant, todos juntos em uma enorme esfera; estamos invariavelmente destinados a nos encontrar. Porque então, nos mantemos apegados à esses desenhos no chão? Porque é tão importante manter o estranho longe, fora, do outro lado da linha? – e note-se que o estranho/estrangeiro, apresentado aqui enquanto “o outro” não diz respeito apenas aos argentinos e uruguaios, mas aos nossos vizinhos e conhecidos.    Sendo assim este Improviso estruturado propõem um jogo cênico se estabelece um confronto entre fronteiras bidimensionais – aquelas que dividem a superfície do planeta – e  fronteiras tridimensionais – metáfora de nossas origens ancestrais e heranças históricas – na construção de nossas identidades. Dado isso, a cena se apresenta como uma investigação que não possui respostas definitivas para os problemas propostos, apenas busca articular reflexões, permitindo-se para tal transitar por diferentes linguagens expressivas.

Ficha Técnica

Concepção e Interpretação: Marcela Páez

Orientação: Lu Favoreto

Concepção de Iluminação: Giuliana Cerchiari


Concepção de Sonoplastia: Tiê Campos e Marcela PáezDuração: aproximadamente 20 minutos.

Fotografia: Marcelo Carreño

Imagens e edição: Marcelo Carreño (Buenpaso Films)

Stranjero #1

Stranjero #2

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